quarta-feira, 5 de junho de 2013

Pré produção e pesquisa - Zabé da Loca - começou!!!

Saindo do sul do Brasil, chegar a Monteiro é uma longa viagem.  Não há vôo direto para João Pessoa, tem que se fazer 1 ou 2 conexões, o tempo dentro do avião e nos aeroportos, especialmente cheios por conta da volta dos feirados, reflete numa ansiedade, aquela vontade de chegar logo. Mas da capital até o maior município paraibano, no coração do sertão do cariri, são mais de 300 km. E lá se vão mais de 14 horas desde o início da jornada até o ponto de chegada.

Monteiro é uma cidade agradável, com avenidas largas e temperaturas agradáveis a noite, um ventinho soprando direto. Só no dia seguinte eu e Carla Joner seguimos sertão adentro, cruzamos as estradas de terra emolduradas por mandacarus em flor, pedras enormes empilhadas, rebanhos de cabras e casinhas com cisternas no quintal.  Chegamos ao assentamento Santa Catarina, onde vive Zabé, que  nos esperava com todo seu estilo, unhas da mão e pé pintadas de vermelho, lencinho preto na cabeça e uma super combinação de cores na saia e casaquinho. E como ela gosta de um chamego, um abraço forte e beijinhos. Ano passado esteve por meses internada no hospital, por conta de um enfizema pulmonar, mas está recuperada. Escuta mal, jogou seu aparelho de audição fora, não gostava. Logo, Zabé escuta quando quer,  fala o que quer e na hora que quiser. Sua casa decorada com cartazes com suas premiações e filmes que participou, está bem cuidada.  Zabé está bem com seus 89 anos.

E logo chega a responsável pelo estar de Zabé: Josivane Caiano, também assentada com sua família numa casa vizinha e, segundo Zabé, é "a filha, a mãe, a amiga e a empregada...é todo esse tantinho numa pessoa só." Josivane é linda. Uma mulher que aprendeu a ler aos 27 anos e que, com o acesso a educação,  se fortaleceu e empoderou as mulheres do assentamento. Muitas sem documentação e vivendo uma história de opressão perpetuada de geração em geração. Josivane cresceu com o crescimento de Zabé e sua tomada de consciência em relação a sua situação e a de muitas a sua volta. Ela nos emociona ao contar sua história,  que hoje não precisa mais receber o Bolsa Família, que por um longo período a ajudou com 234 reais. O dinheiro, historicamente, sempre esteve na mão dos homens. Somente as mulheres viúvas, na zona rural, podiam mexer com dinheiro, passavam, a partir da viuvez, a ter independência financeira. O documento de identidade, o CPF e o Bolsa Família, transformaram as mulheres do assentamento Santa Catarina. Com Josivane a frente, lutando pela importância do planejamento familiar, da saúde da mulher.

Juntas, em volta de uma mesa, as 4 mulheres - eu, Carla, Josivane e Zabé - construímos nosso roteiro de filmagem. A força cultural de resistência que hoje une o Assentamento Santa Catarina estará representada no documentário "Sob o céu de Zabé"- que é de um azul profundo, pontuado de nuvens cinzas, brancas, misturadas.  Zabé é maestra.

Em breve, notícias das filmagens!



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