Nilo Peçanha, na
região da costa do dendê, Bahia, é a cidade do Zambiapunga. Dizem
que o berço mesmo foi Cairu, bem ali perto, mas o fato é que o
local onde o grupo cultural se desenvolveu, cresceu e fortaleceu,
ganhando o Brasil e o mundo foi Nilo Peçanha. Ver o Zambiapunga e
seus cerca de 40 homens tocando é uma experiência única. Um mantra
original, uma catarse coletiva. O ensaio, realizado na sede do grupo,
na periferia da cidade, parece abalar os alicerces da casa. A
sonoridade da percussão – enxada + búzio + tambor – resulta
numa batida musical que arremata até o mais gélido dos corações.
O documentário “pelas
almas de bem” pinçou 3 personagens entre os mais de 40 que compõem
o Zambiapunga – um professor do ensino fundamental (tocador de
tambor), um agente cultural e DJ (tocador de búzio) e um pescador e
coletor de dendê (tocador de enxada). Além disso, o registro
audiovisual buscou captar o universo regional que fez com que aquela
música brotasse. Antiga região de grandes fazendas e cultura
escravagista hoje reúne várias comunidades quilombolas. As cores,
os sabores e os sons têm explicitamente essa relação com a Africa
e com suas manifestações ancestrais. E foi na madrugada da véspera
do dia de finados que o Zambiapunga saiu as ruas com suas máscaras,
capacetes coloridos, extrema energia pulsante de seus componentes e
muita música, num movimento de renovação espiritual – expulsar
os maus espíritos e deixar só as almas de bem reinarem. Fazem da
mesmas forma que fizeram seus pais, avós, bisavós, tataravós. Pela
cidade, moradores também vão pras ruas para assistir e participar
de um amanhecer explosivo e marcante. Uma festa que celebra a
resistência cultural tão diferenciada em uma região pouco
conhecida pelos turistas brasileiros e tão ou mais interessante que
as praias vizinhas de Boipeba e Morro de São Paulo. “pelas almas
de bem” exorciza energias ruins e bota um gostinho de '”quero ver
de perto”, “quero pulsar junto”.
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